sábado, 17 de abril de 2010

ECO-ECONOMIA

Programa Defensores do Clima da WWF oferece opção ecológica ao setor privado


A fatia empresarial do aquecimento

O aquecimento global é uma crise real e sem precedentes. Naturalmente, os gases que, acumulados, geram o efeito estufa, garantem a vida na Terra tal e qual a conhecemos. Em teoria, a energia solar deveria entrar na atmosfera e sair logo em seguida - fenômeno semelhante ao de um espelho. Graças ao carbono e seus pares, porém, uma alta porcentagem de calor é mantida, e não dissipada. Tal fato permite que a temperatura média do planeta atinja os 15ºC; se não fosse assim, ela circularia em torno dos -18ºC.

O grande problema é quando o balanço destes gases é modificado a partir de atitudes antrópicas. Perde-se o equilíbrio, acumula-se maior quantidade de calor. O último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) das Nações Unidas afirma, com 90% de certeza, que o homem é o culpado pelo excesso de concentração de carbono na atmosfera. Basicamente, os problemas começaram com a Revolução Industrial e se distribuíram, ao longo dos anos, pelos diversos setores da sociedade.

O único acordo legalmente vinculante de redução das emissões de gases estufa entre os países é o Protocolo de Quioto, assinado em 1997 e ratificado em 2005, com o ‘sim’ da Rússia. Em resumo, até 2012, as nações do Anexo I (países desenvolvidos, portanto, historicamente responsáveis pelas alterações no clima) precisam cortar, em média, 5,2% do lançamento de gases estufa realizados em âmbito doméstico durante 1990, ano-base do Tratado.

Na última COP-15, realizada em dezembro, na Dinamarca, embora avanços fossem feitos em alguns assuntos, como o financiamento para adaptação aos efeitos das mudanças climáticas, os negociadores não chegaram a um consenso sobre vários temas chaves como novas metas de redução de emissões, prazos e regras das transferências de tecnologia e capital para países em desenvolvimento.

A Natura, durante a mesma conferência em Copenhague, mostrou que pensa diferente quando o assunto são as ações em favor da natureza. Ela pegou a caneta e assinou uma parceria de médio prazo com o WWF-Brasil. Embora os termos sejam simples, os resultados tendem a contribuir muito para uma economia de baixo carbono: redução, até 2012, de 10% no lançamento de gases causadores de efeito estufa em seu processo produtivo, com base em 2008. Em outras palavras, ela vai substituir o combustível fóssil em seus fornos e frotas de veículos por etanol e biomassa, energias renováveis.

A adesão do mundo corporativo às técnicas de combate às mudanças climáticas é de extrema relevância, uma vez que o consumismo sem restrições é um dos maiores vilões do esgotamento dos recursos naturais e, também, do acúmulo de carbono na atmosfera. Em seu livro “Eco-economia”, o cientista norte-americano e fundador do World Watch Institute, Lester Brown, pede por uma sociedade baseada em energias alternativas, e não em petróleo e derivados.

O Programa Defensores do Clima, da Rede WWF, oferece esta oportunidade ao setor privado. Através do engajamento direto nas soluções, a empresa pode ser líder em seu segmento e auxiliar nas políticas climáticas. Mas, ao mesmo tempo, o ingresso no compromisso significa, também, um auxílio essencial aos negócios em busca de uma economia de baixo carbono.


Texto : WWF Brasil - www.wwf.org.br
Imagem: calvinscl.wordpress.com

WWF Brasil - WWF-Brasil apoia ação do Greenpeace em defesa do Código Florestal

WWF Brasil - WWF-Brasil apoia ação do Greenpeace em defesa do Código Florestal

quinta-feira, 1 de abril de 2010

DIÁLOGO COM O FUTURO


Conto sobre uma aula de História – nosso presente num futuro possível

Um dia também seremos protagonistas nas aulas de História. O que ensinarão sobre nós?


A um milênio de nossa época, um garotinho comparece a sua aula de História. O tema do dia é o período da Idade do Quase-Fim, mais conhecido como Era das Trevas II, ocorrido durante o vigésimo-primeiro milênio segundo o antigo calendário cristão.

O professor começa a explicar esse remoto período extremamente importante na formação dos alunos, por conter uma lição de ética humana, servindo como um conhecimento agregador de valores e consciência essenciais para a construção e manutenção da sociedade atual.

“A Idade do Quase-Fim ocorreu há aproximadamente mil anos, e recebeu esse nome exatamente porque em tal época o planeta quase enfrentou a extinção de todas as formas de vida que nele coexistiam”, conta o professor. O garotinho ao ouvir tal informação sente certa agonia, pois a ideia de que tudo o que existe um dia quase acabou lhe era extremamente assustadora. O professor continua:

“O perigo pelo qual a população do mundo inteiro passou foi causado por atitudes anti-sustentáveis que visavam as vantagens na época conhecidas por lucro, e que desconsideraram as consequências que a constante exploração do ecossistema poderia causar a médio e longo prazo”.

Um outro aluno levanta o braço e pergunta: “O que é lucro?”

O professor, então, explica que a palavra ‘lucro’ era o tema usado no sistema econômico antigo para designar uma vantagem advinda de alguma atividade que rendesse mais dinheiro, ou mais crédito.

“E por que precisavam de mais dinheiro ou crédito?”

“Porque através da posse do dinheiro as pessoas poderiam fazer mais dinheiro, e naquela sociedade uma pessoa só poderia viver bem se o tivesse”.

O garotinho franziu a testa, estranhando. Estava um pouco difícil compreender essa parte da história. Se na era do Quase-Fim eles estavam prestes a enfrentar inúmeros desastres por causa das medidas não-sustentáveis, então por que continuar fazendo mais e mais lucro ou dinheiro? Do que iria adiantar ter um monte de dinheiro se não haveria mais chances de se viver? Ele resolveu reclamar:

“Professor, desculpe, mas não faz sentido, uma sociedade totalmente dedicada à busca do lucro enquanto o planeta se deteriorava rapidamente... “

O professor compreende a dificuldade dele e tenta esclarecer: “Acontece que você tem que considerar que mil anos atrás a mentalidade dos homens não era tão desenvolvida como era agora. Veja este exemplo: em várias cidades bastante populosas algumas pessoas jogavam lixo nas ruas durante períodos de chuva contínua, desconsiderando que a estrutura urbana toda asfaltada não podia escoar satisfatoriamente a água acumulada, o que causava enchentes e destruía partes inteiras da cidade, matando pessoas e desabrigando muitas outras.”

O menino arregala os olhos, chocado. Uma menina também participa:

“É verdade que houve uma época em que as ruas das cidades estiveram cheias de veículos a ponto das pessoas não conseguirem se locomover mais?”

“Sim, é verdade”, responde o professor. “As cidades estavam cada vez maiores e as pessoas não queriam mais caminhar, além de não terem desenvolvido os meios de transporte eficientes e sustentáveis que temos hoje, mil anos depois. O que acontecia era que todos queriam ter seu próprio automóvel, mas o espaço urbano acabou se esgotando para tantos veículos, de forma que em pouco tempo as ruas ficaram apinhadas deles e todos presos no mesmo lugar por horas.”

Algumas risadas ecoaram na classe e outro aluno comentou: “Que ridículo! Por acaso eles não tinham desenvolvido cérebro no século XXI?” Mais risadas. O professor não aprovou.

“Vocês não devem rir disso. Foi a precariedade dessa época que ensinou ao Homem a construir um mundo melhor, o qual vocês habitam. Muitos tiveram que sofrer e perecer para hoje estarmos em condições melhores.”

O garotinho resolveu perguntar novamente: “Professor, não entendo como puderam ter desenvolvido um transporte coletivo eficiente como os trens no século XX e chegarem ao XXI tão individualistas e poluidores com os chamados carros...”

“Bom, existia nesse sistema econômico um formato que praticamente demandava o uso do automóvel. O consumismo alienado da época fazia com que as pessoas acreditassem que ter bens além das necessidades reais as inseriam melhor socialmente, o que atualmente já foi superado. E em relação ao transporte ferroviário, certamente teria sido uma forma de melhorar as condições do trânsito, mas devemos lembrar que todos os meios de transporte da época ainda não haviam sido remodelados de forma a utilizarem energia sustentável renovável”, explicou o professor.

“Então além de ficarem presos nas ruas das próprias cidades eles ainda poluíam a atmosfera? Será que não havia ninguém que percebesse como isso não era inteligente?” perguntou a aluna.

“Havia pessoas conscientes, que tinham enxergado o perigoso caminho que estava sendo trilhado, mas eram poucas em relação à maioria, principalmente porque em grande parte do mundo as pessoas nem sempre tinham a chance de serem educadas e desenvolverem capacidade crítica.”

“Que absurdo! Mas e os governantes, eles podiam fazer alguma coisa, não podiam?”

O professor balançou a cabeça. “Podiam, mas relutavam demais em terem iniciativas, mais uma vez por causa daqueles interesses econômicos. Muitos devem ter se arrependido, pois tiveram que assistir as muitas desgraças que se seguiram à abstenção de suas atitudes...”

O garotinho levantou a mão mais uma vez: “É verdade que eles matavam muitos animais?”

“Sim. Diferentemente de épocas ainda mais remotas quando o homem não dominava o sistema de plantações para subsistência, no século XXI muitos animais morreram para dar lugar à estradas, resorts de luxo, ou simplesmente porque se tornaram iguarias alimentares exóticas.”

As crianças todas fizeram caretas. Era realmente cruel.

“E depois chegou o momento em que as pessoas se perguntavam por que não viam mais os bichinhos que davam tanta beleza ao mundo...

“E o que aconteceu depois?” perguntaram.

“Depois chegou a época do desespero. O planeta começou a dar os primeiros sinais das consequências que estavam por vir. Houve alterações climáticas que dizimaram várias espécies, desequilibrando o ecossistema. Essas mesmas alterações de temperatura desenvolveram organismos novos que se mostraram nocivos à saúde do homem. Novas doenças apareceram. O calor excessivo em algumas regiões causou a superpopulação de espécies que asfixiaram outras. O ar poluído deu cabo de mais algumas. O desmatamento das florestas também. Surgiram zonas desertificadas, o solo rachou e abalou estruturas de cidades inteiras, derrubando construções. As chuvas intensas e constantes também. Muitos morreram soterrados. Os buracos na camada de ozônio comprometeram as temperaturas oceânicas, alteraram a formação de ventos, tsunamis atingiram faixas litorâneas e sepultaram ilhas e seus habitantes para sempre no fundo do mar.

Os alunos estavam todos assombrados.

“E o Homem continuou poluindo. Produtos industrializados com embalagens plásticas em excesso, e mais uma infinidade de produtos descartáveis desse material que não era reciclada. Lixo tóxico envenenou o solo, pilhas, baterias, etc. Mais árvores eram derrubadas todos os dias, as zonas de purificação do ar foram escasseando. O solo para plantio era fustigado por secas e por períodos de enchente. De repente, faltou comida. Os preços subiram. Muitos não tiveram mais como se alimentar. Milhões de pessoas morreram. E, então, foi dado o golpe final. O calor extremo e a ausência de posturas ambientais éticas fizeram com que a água potável restante diminuísse exponencialmente. Logo, deixou de haver água para muitos, o que acabou por desestruturar as construções sociais e políticas do planeta. Houve invasões de países com nascentes e, por fim, a guerra.

Silêncio na classe.
Até que alguém levantou a mão, timidamente:

“E então, professor, o que aconteceu? O que aconteceu com todos?”

“Bem, então, fizemos uma escolha.”

“Uma escolha?”

“Sim. Escolhemos recomeçar e compreendemos que não há como construir nada se o princípio da vida não for respeitado.”

“E o que teria acontecido se não tivéssemos feito essa escolha, professor?”

“Não estaríamos aqui agora.”

Termina a aula de História daquele dia. Os alunos ficam agradecidos. Não pelo fim da aula, mas sim porque estudar o século XXI era muito terrível. Ainda bem que ele acabou, e bem.
Por Maricy Ferrazzo